O JB e a Liga das Senhoras Decentes Por: Belisa Ribeiro
No início da década de 90, o JORNAL DO BRASIL já passava dificuldades financeiras graves e a redação sofria com a falta de recursos para fazer frente ao concorrente O Globo. Mas o clima entre os jornalistas era muito bom, todos tínhamos muito orgulho de trabalhar naquele jornal de vanguarda e vestíamos a camisa da empresa, fazendo de tudo para não deixar a peteca cair. Era o chamado salário-ambiente.
Assumi a chefia de reportagem do Caderno Cidade nesta época, dividindo a tarefa com Heloísa Tolipan. Depois, sob o comando do Altair Thury, fui redatora ao lado de Venerando Martins, Luciana Barros e Paula Santa Maria. Dulce Jannotti assumiu a chefia.
O clima de fechamento era tão alegre que muitos se perguntavam se teríamos jornal no dia seguinte. Sempre tinha. E bom.
Naquela época, criei a fictícia Liga das Senhoras Decentes do JORNAL DO BRASIL, que regia o comportamento das mulheres da redação sob o lema “tudo pelas aparências”. Eu, presidente vitalícia nomeada por mim mesma, tinha ao meu lado a vice, Dulce Jannotti, e as diretoras Sandra Chaves, Fernanda Pedrosa e Luciana Barros, à época todas casadas. A Liga abrigava sob suas asas as jovens jornalistas e as preparava para a vida louca da profissão. Foram pupilas da Liga Paula Santa Maria, Ítala Madwell, Daniela Matta, Gabriela Goulart, Maria de Moraes e Paula Máiran, entre muitas outras.
O escracho era nossa principal arma para trabalhar num ambiente de incertezas sobre o futuro do jornal e ainda lidar com tragédias como as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, o incêndio do ônibus 233 ou o assassinato da atriz Daniella Perez. A redação inteira parava para ouvir as histórias que inventávamos.
Talvez a maior contribuição da Liga tenha sido o lançamento do concurso anual Gato da Redação, quando a mulherada toda elegia o homem mais bonito entre repórteres e fotógrafos. No início, os garotos ficaram meio ressabiados com a investida, mas nos anos seguintes faziam até campanha eleitoral. O premiado fotógrafo Rogério Reis ganhou algumas vezes e acabou considerado hors concours. A coroação acontecia sempre numa grande festa de final de ano, que bombava mais que as festas da Ana Maria Tornaghi, a mais famosa promoter na época.
Os anos se passaram, o JB definhou, as senhoras da Liga seguiram caminhos diferentes e nem tão decentes, mas o Gato da Redação permaneceu tradição na redação até há poucos anos atrás.
Comentários:
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Venerando Carlos Martins
Dou plena fé das palavras reunidas acima pela insubstituível presidentA Celia Abend. O time era de primeira e, principalmente, muito amigo - circunstância que persiste até hoje! Aquela redação do JB, aquelas pessoas, são realmente inesquecíveis!