Ela costuma brincar que, agora, não é mais (nem menos) do que a mãe do Gabriel o Pensador, como os da geração Internet costumam reconhecê-la.
Mas a verdade é que ela é antes...
Sempre ousada, aos 20 anos, já era “foca” – como se chamavam, no jargão do jornalismo, os iniciantes na carreira. E durante este que foram os mais negros anos da ditadura militar no Brasil, conseguia emplacar páginas inteiras no JB sobre minorias tão rejeitadas quanto mendigos e camelôs. Do ponto de vista deles.
Militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), marcou presença em quase todos os palanques das Diretas Já (o movimento que levou milhões de brasileiros as ruas pelo direito de voltar a votar para Presidente da República). E foi editora de mais de 20 jornais sindicais de trabalhadores ao mesmo tempo em que escrevia sobre o alto custo do dinheiro e entrevistava os mais poderosos empresários do país para a Gazeta Mercantil .
Os poderosos da política – de Jânio Quadros a Maluf, de Antonio Carlos Magalhães a Tancredo Neves, passando até por Armando Falcão – abriram a boca na TV pela primeira vez, ao vivo, no início da abertura política, no programa que Belisa Ribeiro dirigia e apresentava o Canal Livre, da TV Bandeirantes.
Apaixonada pela profissão, ela escreveu um livro – “ Bomba no Riocentro ” – mostrando como o trabalho dos jornalistas venceu a censura e revelou a presença de terroristas de direita dentro do governo militar. Quando, em 1991, pelas mãos da imprensa, cogitou-se em reabrir o caso, veio à reedição – “Dezoito anos depois”.
Ela fez parte do time que, pela primeira vez, colocou jornalistas no lugar de locutores em um telejornal – o Jornal da Globo , no começo da década de 80.
Na TV Bandeirantes , em seu programa independente “ Dia D ”, fez estrear na telinha grandes nomes que brilhavam apenas na imprensa escrita, como Marcos Sá Correa, Zózimo Barroso do Amaral, Ricardo Boechat, Ricardo Noblat, Willian Waack e Miriam Leitão.
Criou novos formatos de uso da televisão também no marketing político em campanhas eleitorais que começaram com Moreira Franco e chegaram até Fernando Collor de Mello, passando pelo Piauí...
Belisa Ribeiro trabalhou também em Nova York, como correspondente de O Globo e fez parte do grupo de jornalistas que lançou a revista Caras no Brasil.
Foi editora do Jornal do Brasil no Rio e diretora da sucursal do jornal em Brasília, onde era, também, a titular da mais tradicional coluna política do jornalismo, o Informe JB .
No rádio, foi produtora e apresentadora do programa diário de Ricardo Boechat na BandNews Fluminense. Na internet, assinou um newsletter semanal – A semana por Belisa Ribeiro. Na área acadêmica, passou pelo mestrado em comunicação da UFRJ e foi professora da Universidade Veiga de Almeida.
Uma das marcas da personalidade de Belisa Ribeiro é contar, com muito humor, suas histórias que fazem parte da História do Brasil, sempre nos ensinando um jeito especial de rir – o de rir de si mesmo.
Apesar de workaholic assumida, ela costuma arranjar tempo para caminhar nas trilhas da região serrana do Rio, em homenagem a seu passado de velocista.
E ainda dá jeito de cuidar da casa que mantém há anos em Miguel Pereira, onde acaba de plantar duas mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica.
Mãe de dois músicos (além de Gabriel, tem o mais novo, Tiago Mocotó, sambista) e avó coruja de quatro ferinhas (Tom, Davi, Maria Alice e Francisco), Belisa Ribeiro adora música. Não sabe tocar nenhum instrumento, mas rege bem boas idéias, pequenos e grandes desafios e velhos e novos amigos.
Michael Koellroeuter