A moda com todo capricho - Iesa Rodrigues

Em 1967 chegava ao Jornal do Brasil Iesa Rodrigues. Ela se tornou sinônimo de moda no JB, e moda foi um dos temas mais marcantes do Caderno B.
Apaixonada por grafismo desde que, aluna de escola pública, visitou menina a gráfica da editora Bloch em Irajá, no Rio, decidiu estudar belas-artes, como muitas das meninas do B, sonhando em ser paginadora. Mas um professor que gostava muito de seus desenhos acabou a apresentando a Evandro Teixeira. E assim, lá foi ela se tornar mais uma “jotabeniana”. Ficou durante 43 anos!

Abaixo, uma parte do relato que ela me fez para o livro sobre a história do Jornal do Brasil que já entreguei à editora Record e que será çlançado no início do ano que vem.

“O jornal era preto e branco. Você ia a uma feira e na volta a foto saía um borrão, não se via um bordado. Em 1967, ou 1968, não recordo bem, mas foi logo depois que entrei, me designaram para ir a uma Fenit [Feira Nacional da Indústria Têxtil], em São Paulo. Lá, eu entro em uma sala onde me disseram que ia haver um desfile do Valentino. Nossa! Era inspirado na Rússia. Uns casacões longos, as mulheres com aquelas peles na cabeça, um casaco laranja, um casaco amarelo. Fiquei louca. E pensei: “É isso que eu quero. Quero ver desfiles!” Então, de desenhista que acompanhava o repórter para desenhar, quando se pensava que a foto não ia sair boa, comecei também a escrever.
Éramos uma equipe pequena. Quem fazia moda, fazia beleza. Quem fazia moda e beleza, fazia decoração, como não? Então, você acabava fazendo tudo. Um dia, a pauta era uma matéria com o Seu Chagas, um sapateiro muito famoso que tinha lá em Botafogo. Fazia sapatos iguais ao Roger Vivier [designer francês, criador do salto stiletto, falecido em 1998]. A repórter não podia ir e a Gilda disse: “Você vai, desenha e faz uma legenda.” Fiz um textinho, entreguei e a Gilda disse: “Perfeito, agora vai sozinha sempre.” Na escola, eu ganhava todos os prêmios de redação, então não era problema escrever. Mas quem faz moda, beleza, decoração e escreve, também faz produção. E aí começou o inferno. Até hoje ela me persegue.”

O inferno tinha uma sucursal no Catete, onde conheci Iesa, em meio a produções, dela, de alto padrão, que envolviam modelos famosas e, geralmente, o fotógrafo Evandro Teixeira, que se tornou um dos mais conceituados do mundo. Era um estúdio do Jornal do Brasil, pequeno, mas muito bem equipado, que servia de palco para as modelos mais conhecidas do momento, como Mila Moreira, Gisele Achè, Marcia Brito, Fátima Osório, Beth Lago e Elke, antes de se tornar Elke Maravilha, portando um comportado coque e recém-chegada do circuito, como é chamado no meio da moda o eixo dos desfiles no mundo europeu. E onde eu fiz teste e fui aprovada como modelo fotográfico para as páginas de Iesa.

Evandro era o que mais cobria moda, mas não era o único. Iesa fazia parte da turma que tinha o dom da invenção e pediu, um belo dia, a Alberto Ferreira, editor de Fotografia, para sair com Ari Gomes, especialista em fotos de Esporte. Ela conta:

“Alberto ficou me olhando desconfiado e disse: “Mas o Ari só faz futebol, menina!” Eu insisti, o Ari pegou uma 300 [modelo da máquina] e fomos para a avenida Presidente Wilson, em frente à Academia Brasileira de Letras, com uma modelo loura vestindo uns vestidos bem levinhos, e aquele vento daquela esquina. Os fotógrafos de moda geralmente dizem para as modelos: “Faz isso, faz aquilo.” Ele disse: “Iesa, você manda.” E saiu fotografando, com aquele movimento rápido de quem cobre jogo. Ficou um negócio! É um dos meus materiais favoritos até hoje.”


Iesa continua no inferno. Da produção. Tem seu blog, edita muitas revistas, uma correria sem fim que já dura quase meio século. Mas, felizmente, vai a desfiles: “A coisa que eu mais gosto é quando apaga a luz. Ah, vai começar... É o máximo!”


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